Na grande maioria das vezes, a vontade de alcançar algo que julgamos muito importante acaba viciando o objeto de nossa procura, sendo ela mesma motivo de decepções e chagas. Uma jovem italiana de 18 anos, chamada Melissa Panarello, natural da região da Sicília, sentiu intensa necessidade de ser amada por alguém. Para consegui-lo, usou do próprio corpo e do prazer que isso lhe proporcionaria, acreditando que a via do sexo seria a ideal para preencher a si. Em sua vontade de libertar-se, participou de orgias com homens, de sessões de sadismo, homossexualismo e transgressões regadas a drogas. Não obstante ter presenciado tamanha carga de sexo, resolveu por fim narrar em livro suas aventuras a fim de mostrar (ou chocar) aos outros os desvios e nuances do ca-minho trilhado. Disto nasceu o livro "Cem Escovadas Antes de Ir Para a Cama", que, somente na Itália, atingiu a marca de meio milhão de exemplares, e no Brasil figura na lista dos mais vendidos.
O livro aborda os limites a que a adolescente se propôs extrapolar e as consequências que a sua atitude acarretou na sua vida afetiva, o que nos leva a pensar no assombro que o tema da sexualidade provoca nos jovens de hoje, pela prática abusiva e pelos meios quase sempre perigosos com que ela é encarada pela consciência deles.
Melissa trata desse assunto com estranha naturalidade. Na adolescência, diz ter lido grandes clássi-cos eróticos da literatura, dos mais variados autores: Jane Austen, Honoré Balzac, Sade, J.T. Leroy, entre outros. Deixa entrever que os utiliza como desculpa e com o interesse de dar um verniz artísti-co às próprias depravações. Ou talvez procura ela mesma se convencer de que tudo valeu a pena. Mas sua postura apenas realça um aspecto triste da juventude atual: o esquecimento da afetivida-de como trampolim para a autodescoberta e para a descoberta do outro como complemento de si mesmo. Melissa transa com uma garota que conheceu num chat, com o professor de matemática, com cinco homens ao mesmo tempo em sua festa de aniversário de quinze anos. Porém, nenhuma dessas oportunidades nem mesmo toca em seu ponto principal: o amor, por que tanto ansiava. Antes transforma-se num vício, que lhe submete a ir de encontro a todas as regras de pudor e entregar-se fisicamente (e apenas dessa forma) aos outros, tentando tirar dessa relação de prazer insana algo que lhe sustente. E apenas mais vazio traz para si, num círculo de perdas e transtornos. Não há verdadeira descoberta, nem mesmo se vê pincelada a afinidade: o que realmente interes-sa é a satisfação ordinária dos instintos.
É sensata a opinião da jornalista Clara Arreguy, do Correio Braziliense, em sua análise ao livro: “Este tipo de narrativa, no fundo, parece jogar brumas estetizantes sobre uma literatura pretensamente erótica, em que o despudor funcione como canal para desejos e fantasias. Funcionaria se houvesse conteúdo. Não há. A proposta repousa sobre o vazio”. Beijar, ficar, transar, e ir-se. Repousa no vazio a própria definição do afeto para os adolescentes, muito vezes porque a eles não são dados as condições bastantes para crescerem na afetividade, vendo transportarem para suas vidas a irritan-te mania do descartável, do “use e abuse”. Eles se acostumaram a usar e largar, como se, crianças débeis, tivessem usado um brinquedo a ser objeto de seus desejos e, depois destes terem se evaporado, o houvessem largado. A maturidade traz aos relacionamentos a marca da entrega e da renúncia, compatíveis e complementares no momento afetivo, proporcionando aos jovens crescer na experiência honrosa do amor fraterno. Isso é desafio. Entrando na caçada desenfreada rumo ao prazer travestido de sentimento amoroso, Melissa acaba por cair na armadilha fácil do egoísmo e da sujeição. Egoísta por acreditar que ela mesma encontraria a chave do verdadeiro amor, e sujeição por, pouco a pouco, deixar tornar-se objeto de satisfação sensual dos outros. Tornou-se alvo fácil de frustrações e dor, apesar de não deixar transparecer facilmente isso no livro.
Melissa, ao mesmo tempo em que encarna Lolita, a velha figura da adolescente angelical e insinu-ante que marcou época por sua intimidade com os assuntos de sexo, traz a mania curiosa de escovar os longos cabelos escuros como forma de purificar-se das orgias. Carrega em si a marca própria de sua geração: o contraditório. Os jovens, ao mesmo tempo em que experimentam as mais varia-das sensações em busca da auto-satisfação, num papo descontraído na Internet ou na atracação no escuro da boate, anseia por encontrar aquele amor puro, que permitiria a eles entregar-se sem reservas e com a paz do coração, pela vontade de amar simplesmente. Encarnam o adulto precoce que, pensando estar a anos luz no quesito experiência, demonstram serem aprendizes na didática do amor, que exige muito mais responsabilidade e transparência do que eles, na grande maioria das vezes, estão aptos a dar. O segredo são os passos que devem ser seguidos de maneira gradual e segura, do encontro ao namoro sadio, da afetividade descoberta no noivado à responsabilidade e maturidade do matrimônio, momento para o qual a Igreja, sabiamente, reserva a graça do ato sexual. Desrespeitados esses passos, o que se tem é a desordem afetiva e o surgimento de frustrações e marcas. Nesse particular, concordo com a opinião do célebre filósofo católico francês, Paul Claudel: “A juventude não foi feita para o prazer, mas para o desafio”. E o nosso principal desafio, tal qual o ensinamento de Cristo, é o amor.
Breno Gomes
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por
Comunidade Shalom
O livro aborda os limites a que a adolescente se propôs extrapolar e as consequências que a sua atitude acarretou na sua vida afetiva, o que nos leva a pensar no assombro que o tema da sexualidade provoca nos jovens de hoje, pela prática abusiva e pelos meios quase sempre perigosos com que ela é encarada pela consciência deles.
Melissa trata desse assunto com estranha naturalidade. Na adolescência, diz ter lido grandes clássi-cos eróticos da literatura, dos mais variados autores: Jane Austen, Honoré Balzac, Sade, J.T. Leroy, entre outros. Deixa entrever que os utiliza como desculpa e com o interesse de dar um verniz artísti-co às próprias depravações. Ou talvez procura ela mesma se convencer de que tudo valeu a pena. Mas sua postura apenas realça um aspecto triste da juventude atual: o esquecimento da afetivida-de como trampolim para a autodescoberta e para a descoberta do outro como complemento de si mesmo. Melissa transa com uma garota que conheceu num chat, com o professor de matemática, com cinco homens ao mesmo tempo em sua festa de aniversário de quinze anos. Porém, nenhuma dessas oportunidades nem mesmo toca em seu ponto principal: o amor, por que tanto ansiava. Antes transforma-se num vício, que lhe submete a ir de encontro a todas as regras de pudor e entregar-se fisicamente (e apenas dessa forma) aos outros, tentando tirar dessa relação de prazer insana algo que lhe sustente. E apenas mais vazio traz para si, num círculo de perdas e transtornos. Não há verdadeira descoberta, nem mesmo se vê pincelada a afinidade: o que realmente interes-sa é a satisfação ordinária dos instintos.
É sensata a opinião da jornalista Clara Arreguy, do Correio Braziliense, em sua análise ao livro: “Este tipo de narrativa, no fundo, parece jogar brumas estetizantes sobre uma literatura pretensamente erótica, em que o despudor funcione como canal para desejos e fantasias. Funcionaria se houvesse conteúdo. Não há. A proposta repousa sobre o vazio”. Beijar, ficar, transar, e ir-se. Repousa no vazio a própria definição do afeto para os adolescentes, muito vezes porque a eles não são dados as condições bastantes para crescerem na afetividade, vendo transportarem para suas vidas a irritan-te mania do descartável, do “use e abuse”. Eles se acostumaram a usar e largar, como se, crianças débeis, tivessem usado um brinquedo a ser objeto de seus desejos e, depois destes terem se evaporado, o houvessem largado. A maturidade traz aos relacionamentos a marca da entrega e da renúncia, compatíveis e complementares no momento afetivo, proporcionando aos jovens crescer na experiência honrosa do amor fraterno. Isso é desafio. Entrando na caçada desenfreada rumo ao prazer travestido de sentimento amoroso, Melissa acaba por cair na armadilha fácil do egoísmo e da sujeição. Egoísta por acreditar que ela mesma encontraria a chave do verdadeiro amor, e sujeição por, pouco a pouco, deixar tornar-se objeto de satisfação sensual dos outros. Tornou-se alvo fácil de frustrações e dor, apesar de não deixar transparecer facilmente isso no livro.
Melissa, ao mesmo tempo em que encarna Lolita, a velha figura da adolescente angelical e insinu-ante que marcou época por sua intimidade com os assuntos de sexo, traz a mania curiosa de escovar os longos cabelos escuros como forma de purificar-se das orgias. Carrega em si a marca própria de sua geração: o contraditório. Os jovens, ao mesmo tempo em que experimentam as mais varia-das sensações em busca da auto-satisfação, num papo descontraído na Internet ou na atracação no escuro da boate, anseia por encontrar aquele amor puro, que permitiria a eles entregar-se sem reservas e com a paz do coração, pela vontade de amar simplesmente. Encarnam o adulto precoce que, pensando estar a anos luz no quesito experiência, demonstram serem aprendizes na didática do amor, que exige muito mais responsabilidade e transparência do que eles, na grande maioria das vezes, estão aptos a dar. O segredo são os passos que devem ser seguidos de maneira gradual e segura, do encontro ao namoro sadio, da afetividade descoberta no noivado à responsabilidade e maturidade do matrimônio, momento para o qual a Igreja, sabiamente, reserva a graça do ato sexual. Desrespeitados esses passos, o que se tem é a desordem afetiva e o surgimento de frustrações e marcas. Nesse particular, concordo com a opinião do célebre filósofo católico francês, Paul Claudel: “A juventude não foi feita para o prazer, mas para o desafio”. E o nosso principal desafio, tal qual o ensinamento de Cristo, é o amor.
Breno Gomes
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Comunidade Shalom