Nós, os fortes, devemos carregar as debilidades dos fracos e não buscar a nossa própria satisfação. Cada um de nós procure agradar ao próximo, em vista do bem, para edificar. (Rom 15, 1-2)
Vivemos num mundo de facilidades. Estamos acostumados a apertar um botão para acender a luz, a clicar no mouse e entrar em comunicação com o mundo inteiro. A grande maioria de nós que crescemos usando a WEB estamos acostumados a ver televisão, a ir ao shopping, a nos mover de um lado para outro com certa facilidade.
Até mesmo a nossa fé nos foi dada quase de graça. Grande parte dos católicos teve catequese, aula de religião e alguns tiveram a sorte, ou melhor, a graça de uma família que lhes educasse na fé. Nos tempos de São Paulo a situação era outra. A sociedade daquela época não possuía as facilidades que temos hoje em dia. É certo que o mundo grecorromano obtivera grandes avanços técnicos e culturais, mas para a maioria das pessoas a vida era tudo menos fácil. E que dizer da fé? Vivia-se no paganismo, uma religiosidade muitas vezes dada à barbárie e aos vícios. E foi esse mundo que Paulo e os outros apóstolos tiveram que evangelizar. Isso sem falar das perseguições, das calúnias e difamações que tiveram que enfrentar.
Se existe um aspecto que distingue tanto a sociedade hodierna como o mundo clássico é que em nenhum dos dois mundos é fácil evangelizar. Os dois mundos não se mostram propícios para a vivência da fé. São mundos onde os vícios, as blasfêmias e a promiscuidade são vistas como normais e, inclusive, desejáveis. A pergunta para nós, cristãos do século XXI é a seguinte: por que Paulo e os demais apóstolos puderam mudar o mundo e nós não? De outro ponto de vista se pode perguntar o que nos falta para mudar o mundo atual, para fazê-lo cristão outra vez?
Oferecer uma resposta a esta interrogação não é fácil. É provável que sequer seja possível dar uma resposta adequada, contudo existe um fator que eles possuíam e que nós parecemos não possuir: a fortaleza. Não me refiro ao vigor físico ou saúde, mas sim a esta capacidade de enfrentar as dificuldades, de se esforçar por alcançar objetivos grandes. São Paulo no decorrer da sua vida mostrou uma fortaleza e uma firmeza de vontade surpreendente. Suas cartas mostram em vários momentos esta virtude. Conta como foi flagelado, como foi perseguido, como foi apedrejado (Cf. II Cor 11), e que apesar de todos os problemas que enfrentou na sua missão nunca desistiu. Por quê? Considero que existem dois motivos: fé e amor a Cristo.
Comecemos pelo amor. Enfrentar tudo o que enfrentou São Paulo só por motivos humanos seria, no mínimo, uma loucura. Seria heroico certamente, como foi heroica a primeira escalada do Everest ou a conquista das Gálias por parte de Júlio César. Tenho a certeza, porém, que São Paulo não buscou simplesmente fazer atos heroicos. Existia um motivo, o mais sublime dos motivos: o amor. “Pois para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fil 1, 21). Por amor a Cristo Paulo quis padecer as dificuldades da missão. Por amor a Cristo venceu o seu caráter fogoso e aceitou as humilhações e as calúnias contra a sua pessoa.
Sabemos que o amor é capaz dos maiores sacrifícios. Foi este amor que fez São Paulo subjugar o amor próprio, vencer as paixões e seguir, lépido e fiel, no anúncio da Palavra. As dificuldades, longe de fazê-lo desanimar, se transformaram em escola de fortaleza e de generosidade.
Do que não podemos duvidar é da fé de São Paulo e dos demais apóstolos. Sem a certeza do mandato de Cristo de ir pelo mundo e pregar o Evangelho (Cf. Mt 28) seria impossível que eles operassem a mudança que se deu no mundo antigo e cujos efeitos experimentamos ainda hoje.
A fé e o amor foram o fundamento sólido da fortaleza, da perseverança e dos frutos da obra de São Paulo. É bem pouco provável que tenhamos que passar pelas provas, pelas limitações e pelas cruzes que passaram São Paulo e os demais apóstolos. As nossas provas são outras, menos cruentas, mas não menos agressivas. Cabe a nós crescermos na fé e no amor. Cabe a nós pedir estes dons a Cristo. Só assim venceremos a nossa preguiça, abandonaremos o nosso comodismo e nos mudaremos, ainda que minimamente, o mundo atual.
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por
Seminarista Wilson Lazarotto, LC, site:pastoralis