Diz uma canção: “Pois só preso a Ti eu serei livre para amar…”
O caminho da castidade não é prisão, evidentemente, mas liberdade em Jesus Cristo, o referencial para o amor a Deus e aos irmãos. “A castidade é entendida como transparência do amor, olhos límpidos e coração puro que permitem ver Deus na vida humana, feita de conflitos e desamor, às vezes de ódio e violência”, diz Frei Sciadini, O.C.D.
Lamentamos que muitas pessoas, especialmente os jovens e mesmo pessoas que vivem uma consagração específica na Igreja, se autoacusem por não conseguirem, algumas vezes, fazerem dos seus atos, manifestações de uma vida pura. Acaba-se tendo mais confiança nas nossas possibilidades do que na graça e na misericórdia de Deus. Os sacerdotes são testemunhas silenciosas das lágrimas dos jovens e do coração partido por não conseguirem viver a castidade, embora desejem tanto, se esforcem tanto, aspirem tanto. É doloroso perceber e conviver com uma fragilidade que nos machuca o coração e a alma, mas é mais doloroso viver na desesperança, no desânimo quanto à mudança que tanto queremos.
E então, devemos desanimar do nosso processo de conversão? Jamais! Não podemos negligenciar o nosso processo de formação e conversão na castidade. O que quero dizer é que não podemos julgar uma pessoa por alguns dos seus atos, pois não são poucos os que se esforçam para se apresentarem puros por causa dos seus atos e palavras, simplesmente, mas que trazem um coração não casto, uma mente suja, preconceitos diversos, amizades egoístas, olhares que condenam, sentimentos que os deixam aprisionados, vida paralisada, sem doação, sem o dinamismo do amor e da oferta de vida. Você poderia me perguntar: mas isto não é contraditório? Nós damos o que temos! Como posso ser casto no coração se minha vida na prática não corresponde? Eu também já me fiz essa pergunta muitas vezes!
Na verdade, não se trata de contradição quando falamos ser possível existir um coração casto, ainda que os seus atos, algumas vezes, não correspondam. Claro, estou falando de quem está em processo, não de quem está se deleitando com suas mazelas e de quem desistiu de lutar para fazer das relações, das opções e do modo de ser aquilo que dita as concupiscências. Estou falando do amor casto, que é diferente de uma vida simplesmente de atitudes, de gestos e palavras. Não é simplesmente a exterioridade que nos leva a dar a vida, mas é o “amor casto que nos leva a oferecer a nossa vida numa atitude de martírio, agindo como Jesus: Não há maior amor do que dar a vida por aquele que se ama”. Portanto, a castidade por ela mesma não salva, apenas nos dá uma fachada de santos, puros. O que salva é o amor, pois a caridade é a alma da castidade!
Agora entendemos melhor quando diz a canção: “Pois só preso a Ti eu serei livre para amar…”. Agora entendemos “os límpidos e o coração puro”. Ser livre para amar é estar preso a Jesus Cristo, ao Seu amor e à Sua misericórdia, que não nos trata como exigem nossas faltas. Ser livre para amar é nos libertarmos de uma concepção de santidade simplesmente de gestos e palavras, pois é do coração do homem que sai o que o mancha de verdade, disse Jesus. Deus nos quer santos, castos no corpo e na alma, nos gestos e palavras também, mas para isso quer nos dar os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, que amou além das aparências, repudiou os corações soberbos, prepotentes, e se maravilhou com os corações simples, humildes, sinceramente arrependidos e desejosos de mudar de vida, ainda que suas atitudes os tenham deixados longe da salvação segundo o que outros pensavam ser castidade, amor e santidade. A caridade é a alma da castidade!
Imagem: Jovens do Projeto Juventude para Jesus, Missão Shalom Brasília, Renascer 2010.
Antonio Marcos
Missionário na Comunidade de Vida Shalom